quinta-feira, 12 de julho de 2012

Devaneio do dia em que o e-mail matinal não chegou


Pior do que ver alguém que se ama morrer, é morrer para alguém que se ama.

        Ver sua própria figura se desfazer e escorrer entre os dedos daquele que a idealizou...

        É como tentar tocar a matéria e atravessá-la abruptamente, descobrindo que agora se tem apenas um corpo etéreo e que já não pertence mais ao mundo anterior.

        Torna-se nada além de um fantasma errante e um tanto sombrio diante daquele que te amou em vida.

        E por fim, desejar que ele possa voltar a vê-la e ao mesmo tempo ter receio de assombrá-lo com o que se tornou.

        Creio não ser apenas um “eu” que morre apenas a outros olhos, mas um “eu” que morre para si mesmo.

        Nesse caso, não há outra saída a não ser se tornar outro, e que esse outro não seja apenas um rascunho bizarro do que um dia se foi.

        Há de se ter substância, retirada dessas existências anteriores.

        E força propulsora desse constante renascer e remorrer...

        Há de se reencarnar no mesmo corpo e iniciar um novo ciclo da alma.

        Nem meu luto e nem minha autopiedade vai mudar o que aconteceu.

        O encontro de olhares... A inconveniência... As palavras não ditas...

        E essa ingenuidade besta que sempre tive de achar que posso impedir o Sol de se por.

        No fim, foi algo novo que vivenciei e não menos necessário.

        Talvez fosse mesmo hora de um renascimento, e mesmo que ainda não fosse, de nada adiantou.

         Ontem, me deixei levar pela culpa e me afoguei nas lágrimas.

         Hoje acordei mais leve, e com aquela sensação que detesto de me tornar cada vez mais insensível a cada baque sofrido.

        A indiferença que me torna dura como pedra e que na tentativa de me imunizar, também acaba por me privar das poesias da vida.

        Às vezes penso que é preferível a morte dolorosa e todo o sangrar do peito, do que o não-sentir.

        Mas também, não é fácil dar a cara a tapa e exibir meu coração, correndo o risco de vê-lo voar e se perder na próxima curva-fechada.


        A endurescência do coração também ensina muito.

        Devaneios à parte, é preciso perder-se para poder se encontrar.

        É clichê, mas não tem jeito.

        Nada de desânimo, nada de desgosto...

        Agora, só me resta abraçar esse novo começo.

Nenhum comentário: