segunda-feira, 7 de junho de 2010

O RETORNO

Dia cinza.

Dia desses que eu gosto.

Despeço-me dele e sigo meu caminho rumo à labuta de todo dia.

Compro um bilhete ferroviário em uma barraca clandestina.

Tenho receio em saber se o bilhete vai passar na catraca ou não.

Ele passa.

Subo as escadas.

Parte dela está interditada, o que estreita a passagem de uma multidão que sobe e desce apressada no baile descompassado do cotidiano. Porém dessa vez há muito mais passageiros que o habitual.

Engravatados, viciados, putas, crianças, senhoras distintas...

Todos ligados... Se chocando...

O rapaz na minha frente se choca contra uma gestante e ela pragueja.

Os dois seguem...

Parecem ansiosos...

Todos parecem ansiosos.

Algo iminente...

Termino o lance de escadas e paro na passarela.

Assusto-me.

Olho em volta e vejo gente tomando conta das três escadarias, da passarela, das plataformas, da linha do trem e em todos os lugares onde posso ver.

Do alto de onde estou vejo mais adiante, na linha do trem, uma espécie de altar: um tapete com uma tenda apache amarela de onde sai muita fumaça e o som frenético de batuques tribais.

Pergunto a um guru sentado em um tapete do meu lado quem está lá dentro.

Ele me responde que se trata de Manson, Perry Manson.

Arregalo os olhos e me ponho a rir.

Pergunto se todos ficarão ali a esperá-lo e adorá-lo como um messias.

O guru responde com uma expressão de dúvida, faz um gesto de “lava-mãos” e volta à sua meditação.

Eis o anticristo! Penso eu.

Acordo.

Logo torno a adormecer.

2 comentários:

Fabio disse...

Senhor Perry Manson. Ou talvez tivessem esperando o filho do Joe Perry com o Marilyn Manson. Rá, essa foi péssima, no duro!
Sonhar com aglomerações acho que quer dizer com panacéia coletiva, um monte de gente indo pra lugar nenhum, fazer qualquer coisa inútil, esperando por algo ou alguém, que sabe se lá de fato irá aparecer. Nada muito longe da realidade atual das cidades e suas milhões de múltiplas cabecinhas e tentáculos do inconsciente coletivo a troco de nada.

Paulo Kosta disse...

Nos tempos atuais, nossas cabeças contém mais informações do que deveríamos ter de fato. Há necessidade de reciclar muita coisa, ou, a loucura, degeneração, angústia o querer desaparecer pode nos acontecer. Os pensamentos são involuntário, podemos aceitá-los ou descartá-los. Cabe a nós esta tomar a decisão que aparentemente é a mais correta.